MISSIO DEI – Missão de Deus

“Como o Pai me enviou, também eu vos envio, disse Jesus”
(Jo 20, 21)

Nascida da missão de Deus, a comunidade cristã é enviada por Jesus Cristo para dar continuidade à missão por Ele vivida. Depois da morte e Ressurreição de Jesus, seus discípulos e discípulas recebem o mandado missionário de anunciar o evangelho até os confins da terra (At 1, 6-8). Como o enviado do Pai, Jesus Cristo delega e confirma a missão da comunidade. Ou seja, o que se aprende durante a convivência com o Mestre servirá para a missão posterior (Jo 20,21). O envio missionário se dá em comunidade porque comunidade e missão caminham juntas. A missão gera unidade, testemunho, profecia e serviço.

Nós Irmãs do Imaculado Coração de Maria, na dinâmica missionária, assumimos no XIX Capítulo Geral Ordinário, viver com alegria em comunidades solidárias, enviadas a testemunhar a justiça e a profecia do Reino de Deus. E assumimos no Plano Global de Ação a Animação Missionária como jeito ICM de SER e VIVER a justiça e a profecia do Reino de Deus, e contribuir com a construção de uma sociedade mais humana, justa e igualitária nos diversos espaços onde estamos inseridas.

Neste pequeno texto, oferecemos uma breve reflexão sobre o que caracteriza a Animação Missionária que desejamos.

Iniciemos pela compressão da terminologia. A expressão animação deriva da palavra anima que em latim quer dizer alma. Neste sentido, animar ou animação significa dotar de vida um organismo, enriquecê-lo de dinamismo, vivacidade, movimento, expressão. Biblicamente falando, animar nos remete a expressão RUAH – Espírito que na narrativa da criação no Livro de Gênesis capitulo um e dois, aparece como a força vital, movimento, dinâmica criativa de Deus que modela todas as coisas: “então o Senhor Deus formou o ser humano com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida, e ele tornou-se um ser vivente” (Gn 2, 7).

O termo RUAH origina-se da língua hebraica e aparece no Antigo Testamento, 378. Foi traduzida o grego como PNEUMA e para o latim SPIRITUS. A palavra animação vindo da origem da RUAH, nos remete também ao ar da respiração, frágil e vacilante, ar necessário para a vida, ar que sustenta e anima o corpo e sua massa.  Frei Carlos Mesters diz que a RUAH de Deus, é a energia em movimento, ela não apenas se move, mas põe outras coisas em movimento.

Do ponto de vista da terminologia, animar ou animação missionária das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, é dar um novo vigor a nossa ação pastoral. Ou seja, é revitalizar, dar vida e dinamismo aquilo que fazemos. Esta missão se caracteriza pelo assumir o mandato missionário de Jesus Cristo no ir e formar novos discípulos e discípulas.

No contexto do cinquentenário do Concílio Vaticano II (1962-1965), que convocou a Igreja e a VRC ao aggiornamento, isto é, a uma atualização de sua prática e ação evangelizadora, o PGA da Congregação nos dá a oportunidade de revisitar os fundamentos bíblicos-teológicos-pastorais para redescobrir a beleza da natureza missionária, razão e esperança da nossa Consagração. O próprio Concílio Vaticano II afirmou que “a Igreja peregrina é por sua natureza missionária, porque tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai” (cf. AG 2).

Portanto, a Animação Missionária, para nós, Irmãs do ICM, é nova em sua terminologia, mas é antiga em sua origem, pois desde a fundação, a Congregação expressa e vive sua essência missionária.

Missão. Já a missão do ponto de vista de sua terminologia, se configura como Missio Dei. A expressão vem do latim e significa envio de Deus, ou missão de Deus, no sentido de ser enviado.  Outra expressão para caracterizar a missão de Deus, utilizada pelo teólogo alemão Karl Barthf  foi  actio Dei, para falar da ação de Deus na Igreja e no mundo. Portanto, a auto-revelação de Deus como aquele que organiza de forma harmoniosa o mundo e cria o ser humano para conviver neste mundo em cooperação e harmonia, pode ser compreendida como a missio Dei.

Esta expressão missio Dei, foi utilizada pelo teólogo Georg Friedrich Vicedomin em 1958. Ele afirmou que a missão é ação incondicional de Deus, é sua obra primeira que se realiza para a libertação/salvação da humanidade. Cristo é o centro dessa missão de Deus. Assim sendo, a missão não é primeiramente uma atividade da Igreja e sim atributo de Deus. A missio Dei como atividade ou envio de Deus engloba tanto a Igreja como o mundo onde a Igreja está inserida. A Igreja e as Congregações são privilegiadas por participarem da missio Dei.

Nesta compreensão de missão como atributo de Deus, pode se afirmar que a missão não é uma atividade somente da Igreja, mas uma ação primordial do próprio Deus.   Neste sentido, a missão pode ser traduzida como um movimento de Deus para o mundo. No Evangelho de João 14, 1-18 expressa bem essa ideia, quando diz que “o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Na dinâmica dialógica da Palavra de Deus, traduzida pela comunidade joanina como o Filho de Deus, Verbo, Logos, Palavra encarnada, está o modo missionário do Ser de Deus que vem ao encontro da humanidade. Missão, portanto, é uma atividade do próprio Deus que é essencialmente um Deus Missionário.

Tivemos a oportunidade nestes últimos anos e, sobretudo, na realização dos Seminários sobre a Missão ICM, tanto em nível de Setor Geral, como das Províncias, de aprofundar a nossa missão e perceber que a missão da Igreja e da Congregação no mundo, é a de inserir-se na missio Dei-missão de Deus, para realizar com fidelidade criativa a verdadeira e autêntica missão.

Por isso, que a V Conferência do Episcopado Latino Americano e do Caribe, convocou a Igreja para um estado permanente de missão afirmando que a Diocese, em todas as suas comunidades e estruturas, é chamada a ser ‘comunidade missionária’ (cf. ChL 32). Cada Diocese necessita fortalecer sua consciência missionária, saindo ao encontro dos que ainda não crêem em Cristo no espaço de seu próprio território e responder adequadamente aos grandes problemas da sociedade na qual está inserida. Mas também, com espírito materno, é chamada a sair em busca de todos os batizados que não participam na vida das comunidades cristãs (DAp 168).

Na mesma linha de reflexão, o Papa Francisco recorda da essência missionária da VRC e adverte para o resgate da profecia. Ele diz que os religiosos são os profetas do novo tempo, e que na Igreja os religiosos são chamados em particular a serem profetas que testemunhem como Jesus é vivido nesta terra, e que anunciem como o Reino de Deus será na sua perfeição (Ano da VRC. Perscrutai, pg. 70).

Na alegria e leveza deixemos, nos diversos espaços de nossa missão, a marca da Animação Missionária ICM, que corresponda com a missio Dei, a missão de Deus.

Irmã Maria Aparecida Barboza
Setor de Animação Missionária

 

 


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